MELANCOLIA
por Regilene Rodrigues Neves

Dias tristes navegam em minh’alma...

Ora insana a saudade
Arremessa suas ondas
De lembranças felizes
Para aplacar a tempestade
Que ora insiste
Em fazer redemoinhos em meu peito...

Na paisagem do dia
Meu olhar longínquo se perde
Procurando quimeras onde eu possa
Preencher-me desse vazio
Esquecido dentro de mim
Pelas avessas de um caminho errante sem fim...

À tardinha já se aproxima
Escorrendo sua solidão a minha volta
O som do silêncio sopra suas notas de melancolia
Na paisagem cética de um olhar triste...

Foram-se os carinhos dos raios de sol
Que me percorriam de alegria
Em manhãs aquecidas de verão
Dias que afaguei sem saber
Que a felicidade me pertencia
E eu feito louca a procurava noutro destino...

Vaidade que a minha juventude
Ostentara qual uma patriota cheio de orgulho
A levantar sua bandeira sobre o front...

Até que numa luta por sobrevivência
Fui sendo vencida pela necessidade
De simplesmente sobreviver
Perdendo pelo caminho meus sonhos
Feitos de singelos desejos
Apenas ser acariciada pela vida
Que fora sempre uma mãe severa
Sempre a cobrar de mim
Sem me dar chance de respirar
Um pouco de amor...

Cansada de beber amarguras
Dilato minha alma nesse poema
Cheio de sensibilidade
Cultivado em tantas lutas desiguais
Ao longo de uma vida sôfrega
Que aos poucos fora matando
Lentamente meus sonhos...

Mas ainda há um resto de esperança
No meu íntimo
Guardado num lugar secreto
Onde me apego para esquecer-me de toda tristeza
Que foi se impregnando no meu peito...

Assim alguns sorrisos
Cultivados em efêmeras alegrias
Possam afagar meu coração
Até que eu aviste uma nova estação...

Em 30 de abril de 2012


FOLHAS AMADURADAS DE OUTONO
por Regilene Rodrigues Neves

Jaz no outono folhas amadurada
No semblante da estação...

Poesia
Que ao longe avisto
Pelos cantos tristes
De um olhar sobre o infinito
Buscando a quimera longínqua
De um coração alagado de sentimentos
Molhados de saudade...

Partistes deixando céticos os versos d’alma
Que sem rima escorrem lágrimas sobre o vazio...

Lembranças tuas
No peito afagam carinhos
De um amor eterno
Na ternura de almas gêmeas
Intrínsecas de um afeto tênue...

Rasantes noturnos
Feitos de silêncio 
Ainda sonham a poesia
De um soneto de fidelidade
Abraçado a alma
Enquanto suspiros de saudade
Lamentam tua ausência...

Promessas vêm numa frase
Que logo se perde...

Teu grito rascunha o papel
Que se junta a tantos outros
Jogados ao vento...

Entre átimos provo
Teu sabor ora lírico
Ora dramático pela longevidade
Das palavras consumidas
Em sôfrega saudade...

Te espero como quem espera
Chegar à primavera
Para florir os dias tristes
Do último inverno...

Ainda que encoberta em folhas ressequidas
Sinto a fragrância das tuas lembranças
Deitadas sobre o outono...

Em 14 de abril de 2012